Indústria quer a aplicação caso a caso de novo imposto de exportação

06/09/2018

Indústria quer a aplicação caso a caso de novo imposto de exportação
Valor Econômico

Daniel Rittner

Os empresários da indústria admitem a "situação de emergência" que fez reaparecer o imposto às exportações, mas agora querem um alívio da medida em setores específicos, segundo o vice-presidente da União Industrial Argentina (UIA), Daniel Funes de Rioja. "Há que se analisar caso a caso. O que sugerimos é a aplicação mais prudente e inteligente possível para não ferir a atividade produtiva."

Funes, que dirige ainda a Copal (câmara da indústria alimentícia), diz que a crise e os novos impostos não colocam em xeque o apoio do setor privado ao presidente Mauricio Macri. "Este governo encarna muitos ideais que qualquer empresário deve ter: respeito ao Estado de Direito e à iniciativa privada, transparência e combate à impunidade, uma integração inteligente ao mundo." Leia os principais trechos da entrevista.

Valor: O pacote lançado na segunda-feira pelo governo vai na direção correta?

Daniel Funes de Rioja: A Argentina precisa de ajustes estruturais e de reformas. Hoje, em todo o país, mais de 30% dos empregos formais estão no setor público. É uma carga muito pesada. Viemos de um populismo exacerbado. A carga de pobreza e marginalidade era grande. Havia um ambiente financeiro e internacional que permitia ajustes graduais. Agora não permite mais, e é preciso encarar isso.

Valor: O governo Macri demorou para apertar a política fiscal?

Funes: Poderiam ter feito antes? Do ponto de vista social, era muito difícil. Talvez pudessem ter adotado dois tempos: gradual em algumas coisas, nem tanto em outras. De todo modo, já passou. Agora é fazer o que precisa ser feito.

Valor: De um lado, a competitividade da indústria melhora com a desvalorização. De outro, voltam as retenções. Qual é o saldo?

Funes: Deve-se levar em conta a composição de custos. Na indústria de alimentos, por exemplo, as commodities são todas dolarizadas. Os custos não dependem de fatores locais. Por isso, além de questões trabalhistas e de logística, tínhamos muita expectativa na reforma fiscal. O empresário precisa de uma taxa de câmbio competitiva, não de um câmbio especulativo. Hoje estamos sem bússola. Que seja um peso competitivo, mas que fique assim.

Valor: Qual é o ponto de equilíbrio do dólar?

Funes: É difícil dizer hoje. Na Argentina, normalmente, o que sobe não desce mais. Mas parece que o movimento atual foi longe demais. Esperamos que essa mensagem do governo [ao mercado] dê mais previsibilidade.

Valor: As críticas de empresários ao imposto sobre exportação foram moderadas. Espera-se alguma atenuação das medidas anunciadas?

Funes: Há que se analisar caso a caso. Se você produz uma cápsula de café, usa grande quantidade de insumos importados ou dolarizados. Nesse caso, pagar 3 pesos por dólar é muito. O governo fez uma medida horizontal e agora é preciso avaliar setor por setor. Não gostamos contentes com as retenções, mas entendemos a situação de emergência. Não estamos dizendo ao governo para não aplicar nada. O que sugerimos é a aplicação mais prudente e inteligente possível para não ferir a atividade produtiva.

Valor: Já se pode pensar em uma recuperação da economia ou ainda é prematuro?

Funes: Com a economia e o consumo em contração, não vejo nenhuma razão objetiva para uma espiral inflacionária. Prevemos meses difíceis pela frente, mas uma primeira tração terá origem no setor primário. Há uma colheita muito boa de trigo chegando. A soja está em recuperação e parece que ficaremos livres da pior seca em meio século. Outro impulso vem da área de energia. Com a produção no campo de Vaca Muerta [megajazida na Província de Neuquén], estamos deixando de importar gás e começando a gerar excedentes para exportar ao Chile, o que reverte a tendência observada nos últimos 12 anos e que culminou com uma péssima dependência energética. O terceiro fator é a agroindústria. Chegamos a ter US$ 30 bilhões em exportações anuais de alimentos industrializados, no início desta década, e hoje esse número caiu para US$ 25 bilhões. É um golpe nas economias regionais. Com o manejo adequado da taxa de câmbio e de outros elementos, podemos atingir US$ 50 bilhões por ano. Obviamente não é do dia para a noite.

Valor: Os empresários estão sendo condescendentes com o governo Macri? Como se houvesse uma percepção de que está ruim com ele, mas seria pior sem ele?

Funes: Temos um histórico de desajuste fiscal, inflação exagerada e recessões cíclicas. O governo Macri encarna muitos ideais que qualquer empresário deve ter: respeito ao Estado de Direito e à iniciativa privada, transparência e combate à impunidade, uma integração inteligente ao mundo. Há uma empatia com as políticas [do atual governo].

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